quinta-feira, 29 de novembro de 2007

carta para um escrivão

Ao escrivão da câmara

Há quem diga por aí que V. Exª foge da inteligência como a gordura do Fairy. Pois fique sabendo que não é essa a minha opinião.
Deixe, no entanto, que lhe diga caro escrivão, o quanto embasbacada fiquei com a sublime prosa, plasmada na última edição do JF.
Foi bonito de ler o grandioso carácter de V. Exª em defesa do exercício da coisa pública, que é como quem diz do precioso líquido.
E já que anda tão consumido no titânico enfado de dicionarista, vou poupar-lhe o incómodo de procurar outras palavras de difícil significado como “marosca”
Ora tome lá outra: “Negociata”; negócio suspeito, em que há logro ou trapaça.

Compreendo, caro escrivão, o que lhe vai pela alma; como deve sentir-se sufocado, no desassombro dessa escória materialista, e ainda por cima dialéctica, atafulhada em providências cautelares. Mas não desanime, há sempre uma luz bem lá no fundo, que há-de apagar-se na derradeira paródia. Por certo, virá um dia à superfície, a espuma desse liquido abjecto onde os peixes fodem.
Está na Hora, caro escrivão da câmara- Está na hora de exterminar os gentios da esquerda caviar; se fosse comigo, fechava-os no túnel da Gardunha, e inundava-lhes as narinas com gás butano.
Tão certo como eu chamar-me Ermengarda.

Ao seu dispor

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Aquecimento regional dá origem à panela no forno



Este será, provavelmente, o estado a que vai chegar a subida prá Torre, 75 anos depois da gestão das Estradas de Portugal. Quanto à panela, em seu lugar, podia muito bem figurar, outra vez, a ovelha da Rotunda do Rato, ou mesmo o Urinol de Duchamp, Mas d'isso já lhe demos conta.
Também é verdade que qualquer olhar desprevenido sobre as imagens pode suscitar leituras atrevidas; provocar quiça, o apetite alarve do indígena.
Mas não é isso que nos traz hoje aqui.
O assunto é sério, e de uma vez por todas, convença-se, estimado leitor, que a nossa prosa não faz parte de nenhum exercicio d’escrita criativa, para isso, pode e deve recriar-se no fim-de-semana, com O interior, pasquim satirico da cidade mais-alta.

Tratamos hoje, do primeiro aquecimento regional, que chegou até nós num manuscrito encontrado na delegação da ASAE, depois desta ter verificado, que o alcatrão da estrada para as Penhas da Saúde, estava contaminado com colestrol, proveniente do uso intensivo de enchidos e toucinho.

A obsessão doentia em busca do caminho da verdade, levou-nos a uma exegese aturada, mas valeu a pena, pois descobrimos, finalmente, que o tradicional arroz à valenciana, não é o pai biológico da panela no forno, não é não senhor.
A fumarola saída do asfalto veio comprovar o que já se adivinhava: o suculento prato tem origem na Covilhã, desde o primeiro aquecimento regional, altura em que os paisanos cozinhavam os alimentos nas entranhas da terra, só muito tempo depois, talvez pelo segundo aquecimento, surgiu o reles Arroz à valenciana.
Fica assim desfeita essa enorme confusão que atribuia, abusivamente, a paternidade gastronómica ao pérfido arroz amarelo de nuestros hermanos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O €leitor distraído


Soubemos num destes dias da existência de uma deputada, representante dos indígenas beirões lá pelo espaço monacal da assembleia. Formidável.
Exclua-se a retórica parda, e o ataque gratuito aos deputados da nação, e faça o estimado leitor um breve exercício de memória:
Alguma vez ouviu falar numa deputada Hortênsia, eleita pelo círculo eleitoral de Castelo Branco? Claro que não.
E sabe porquê caro leitor?
Porque a mulher, é discreta, não anda por aí a distribuir tabefes a jornalistas emproados, como aquela deputada do Chavez.

Os gentios do lado de cá da Gardunha, que é como quem diz da Covilhã, deviam ter orgulho nos seus calmos, silenciosos deputados, em lugar de pastarem por aí em permanente lamúria, vertendo lágrimas de crocodilo dundee; enquanto os representantes do condado, imbuídos do doméstico espírito de sacrifício, vão impedindo que o “distrito” descole da civilização.

Quantas vezes no ano o estimado €leitor assistiu a um debate parlamentar in loco?
E quantas vezes contactou os prestimosos deputados da paróquia para aferir dos seus / nossos problemas?

Ó senhor €leitor ! Não brinque com coisas sérias ! Deixe-se de populismos.

Em vez de andar por aí a ver A vingança, a ler a Tv Guia e a Bola, ou em lugar de se chegar à frente com reparos e manifestações contra o governo, devia apoiar, isso sim; as intervenções da desamparada deputada Hortênsia, a devoção sublime da incansável paladina dos paroquianos d’entre Tejo e Estrela.
Não fosse o esforçado empenho, e já imaginou; quantas escolas do primeiro ciclo encerrariam no "distrito"?
E os tribunais? Quantos seriam transferidos e encerrados?
Já pra não falar dos postos da GNR, e dos milhões do piddac (direitinhos prá “capital do distrito”) Pois é.

E da sua parte estimado €leitor? Nem um único gesto de gratidão.
Pense bem caro leitor. Pense bem

Ermengarda

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Os painéis de São Martinho




Já havia uma ovelha acéfala, bem no centro da Rotunda do Rato; pois agora, na sua continuidade kitsch, pode o paisano disfrutar um painel de azulejos, que constitui, sem dúvida, a segunda manifestação de arte pública na Covilhã.
Faltava, pois claro, o urinol de Duchamp, para conferir maior autenticidade ao locus horribilis. Não o esquecemos
O problema é que a Covilhã carece d’uma consciência cívica que obrigue a apagar estas nódoas públicas, de modo a que o cidadão possa viver a cidade em liberdade, e não fique sujeito à ditadura do “Belo” camarário.
Enquanto se fomentar a separação absoluta entre o poder político e a cidadania, nunca nos veremos livres desta aberração em forma de azulejo.

Não lembrava a ninguém.

domingo, 18 de novembro de 2007

No meio das escadas um Poste


Depois do trabalho de requalificação das escadas da Saudade, ali prós lados do Bairro da Alegria: um dos bairros residuais do operariado da Covilhã; eis que um poste emerge a meio da escadaria, em total desfasamento com os outros, alinhados junto ao muro. Tentámos apurar do desalinho, e cedo chegámos à conclusão que, o Poste ficou ali, não por desleixo da empresa construtora, nem para a contemplação estética dos nativos, ou, muito menos por se tratar de um bairro pobre. Qual Quê !!! O Poste ficou ali porque lhe apeteceu. Sim senhor.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Deslize


Lamentamos escorregar com a prosa para terrenos movediços, mas o momento não propicía grandes penetrações psicanaliticas, ou outras, que nos levem a percorrer o interior mais obscuro do nativo.
Foi assim, neste estado de alma, enquanto deambulávamos pela margem sul, no tal deserto, do ministro das obras do reino, que vimos emergir d'uma rotunda, este Outdoor; no momento pensámos que era melhor desistir de o comentar, dada a natureza porca que lhe subjaz, mas a tentação chamou por nós, foi mais forte.

E depois, pra quê Forçar? Quando um leve toque, é mais que suficiente para fazer deslizar o tónico purificador pelo hemorroidal.

De que espera estimado leitor ? Ouse. Não perca tempo com minudências, nem se arme em intelectual de pacotilha; se tiver que oferecer algo no Natal, esqueça a bosta dos channeis, e os tijolos do José Rodrigues dos Santos (coitado... quase a ser despedido).

Não hesite, leve consigo um tónico anestésico, e torne menos penosa essa viagem ao interior mais recõndito da sua/seu cara-metade. É claro que primeiro estranha-se, mas depois, lá está, entranha-se.

Tonho

O Reverendissimo Frei Tomás e a festa da paróquia

Reverendíssimo governador da freguesia de São Martinho,

Quero desde já manifestar-lhe a mais profunda admiração pela sua governança, em nome do santo que dá nome à paróquia, que aliás, Vª eminência tem conduzido com um desempenho imaculado, prenhe de sabedoria; numa freguesia da Covilhã, que há 10 anos caminhava para a decadência, por entre ruas e casas a cair de tédio. E que hoje, fruto de toda uma máquina de evangelização e doutrinação urbana ficou mais próxima da Quinta da Marinha.
Fiquei embasbacada com a deliciosa manifestação, e o eloquente paroquialismo, com que este ano brindou mais uma vez os indígenas na festa do padroeiro.

É certo que o resto do ano, Vª eminência tem a trabalheira enorme de enviar postais de aniversário aos paroquianos, mas fica o registo da subtileza do seu mutismo. Como eu gostaria de poder retribuir-lhe tamanha urbanidade !
Foi lindo ver a banda percorrer as ruas da paróquia de S. Martinho pra deleite das almas. Era bonita a música da festa pá... O cântico pimba fica sempre bem como gesto evangelizador.
Pelo menos este ano, dispensou-nos do estrondo matinal dos cabrões dos foguetes.
E aqui pra nós Reverendíssimo Frei, que ninguém nos lê, deixe vociferar a fauna que anda por aí roidinha de inveja do seu rebanho. Eles-não-sabem-nem-sonham o que é governar uma junta de bois a pão-de-ló, quanto mais uma verdadeira junta de paisanos basbaques. Uma vidinha de trabalhos é o que é !
Cá pra mim, sempre acreditei que Vª eminência, ainda iria chegar longe na polis paroquiana. Mas essa é outra estória.
E ainda lhe digo mais; esses cães de fila, que nunca tiveram mérito ou competência para o exercício de funções políticas na comarca, cedo se tornam clones patéticos da vaidade do patrono.
Deixe-os ladrar Reverendíssimo Frei. Deixe-os ladrar.

Atenciosamente

Ermengarda





segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Planos para o futuro

A pedido de alguns leitores, e tendo em conta o aproximar da época natalícia, vamos a partir de agora falar de coisas sérias.


Uma galinha põe um ovo de meio quilo.
Jornais, televisão, repórteres....todos atrás da galinha.





- Como conseguiu esta façanha, Sr ª Galinha?
- Segredo de família...
- E os planos para o futuro?
- Pôr um ovo de um quilo!
Então as atenções voltam-se para o galo...





- Como conseguiram tal façanha, Sr. Galo?
- Segredo de família...
- E os planos para o futuro?
- Partir os cornos ao Peru!!!!


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

errare ú-mano éste


A siênsía e a tecnolojia são os mîtos que o reino tem vimdo a apregoare, á mistura com a puta-tiva cultura de ezigênsia, que apenas tem cervido para queriar um rolo de analfabetos univrecitários com deficludades em intrerpretarem o que leêm, ou de se faserem comunicar atravéz da inuzitada quamtidade de erros que cometein quando escrevein.
Ou seja, esta jeração portátel ainda não conçeguiu adeqirir conpetênsias sufeçientes, ou faser uzo da linguajem em situasão de leitura e de escrita. Por isso, vaise transformando, paulantinamente, numa maça tosca e descratável a bem da nasão.
Quando o senhor injenheiro se for embora estaremos ezatamente na mesma posisão do tempo do drº cavaco: nem mais avanzados, nem mais atrazados.

Viva a festa.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Avatares de um filho adaptado

Chegam aos magotes à Covilhã durante a época de Outono: o burgo recebe-os de perna aberta, e a primeira oferenda consta d’um quarto ao preço módico de 250 aéreos, com direito a um banhinho semanal. Maibom!! Grande parte do rebanho chega à cidade-fábrica com o intuito de tirar um cursozito à Bolognaise, e depois ala que se faz tarde…uma caixa de supermercado espera por eles.
Falamos, pois claro, do género Covilhanense-académico; onde se perfilam professores, estudantes, e outros cromos que não conseguimos identificar. No entanto, sabemos que se convertem à espécie, através de um estranho processo de osmose, sem misturas, ou proximidades afectivas com os autóctones.

No princípio era o deslumbramento pela paisagem e por montes nunca d’antes contemplados, num contentamento descontente, que levou o cromo académico a disseminar-se pelas partes baixas e altas da urbe. Assimilou naturalmente o sotaque covilhaneinse, e como indígena que se preze, tornou-se um apreciador compulsivo da gastronomia serrana, como seja o tradicional Arroz à Valenciana, embora haja alguns casos de adesão à Francesinha e ao Frango da Guia, Sim senhor.

Estas espécies de covilhanenses em trânsito tem, aparentemente, grande facilidade em se adaptarem a meios adversos, não se estranha por isso, que gostem muito de cá estar. Só que, a fugacidade do teimpo, e as rotinas académicas, trouxeram-lhe, paulatinamente, algum desconforto. E, está-se mesmo a ver, o pior que pode acontecer a uma espécie adaptada, é descobrir que afinal, a Covilhã não tem praia, e que o Sol que dá luz à sua existência, permanece por cá menos teimpo, do que por outras paragens banhadas pelo precioso liquido, onde massaja o ego e chapinha os chispes.
De repente, a perplexidade instala-se e transforma-se em azia metafísica; vai daí, enclausura-se no casulo, seu habitat natural, donde sai às Quintas de noite, para regressar às Quartas de manhã, (da semana seguinte, é claro) em coma alcoólico.
Dão-se alvíssaras a quem consiga vislumbrar a criatura num evento cultural da urbe ou arredores.
Habituado a planuras geográficas e a horizontes atlânticos, entra rapidamente num processo maniaco-depressivo; queixa-se de quase tudo porque sim, mas principalmente da ausência do movimento cosmopolita, do calor, do frio, e das ruas empinadas.
Aos poucos, torna-se num calimero insuportável.

Fagundes o esperançoso

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Covilhaneinse, edição revista e aumentada

Desconhece-se a origem desta espécie, mas há estudos antropológicos que apontam para o Jurássico, e numa fase posterior para a influência dos povos bárbaros.
Pensa-se que o seu percurso genético emerge d’uma ovelha, evoluindo, ainda que lentamente, para formas comportamentais, mais ou menos eruditas, e tantas vezes próximas do cão de Pavlov. À medida que o pasto foi escasseando, o cromo pegou na mala de cartão e iniciou a transumância prá estranja, onde à custa de sangue suor e lágrimas, amealhou o cacau suficiente pra erguer a maison com a mais requintada azulejaria.

De maneira que ao longo do teimpo, este nativo, incorporou algumas idiossincrasias que o tornaram impar na lusa pátria. A primeira, digna de registo, é gastronómica, tem provavelmente origem em "nuestros hermanos", do sul peninsular. Trata-se do célebre arroz à valenciana que, vá-lá-saber-se-porquê, a criatura papa todos os Domingos ao almoço, qual ritual litúrgico. Segue-se ao repasto, a caminhada do rebanho para o Shopping, onde o cafezito é tomado com pompa e circunstância, enquanto o paspalho dá uma volta ao bilhar-grande à espera de vez.
Outra variante do paisano, mais sedentária, encontra-se nas arcadas do pelourinho, onde o merecido pousio se amanha em cadeiras acorrentadas, enquanto cospe piropos alarves pró transeunte ocasional.

O Covilhaneinse é, pois, facil de identificar em qualquer dia da semana mas adquire maior visibilidade aos Domingos de manhã, ali prós lados do complexo desportivo, no parque industrial do Canhoso, ou do Tortosendo, tanto faz; lá está ele em fato-de-treino, com as mangas arregaçadas junto à sua viatura. Pois claro, de portas abertas a arejar o cheiro bafiento das humidades e a lustrar o cromado das jantes, que a vida não está para lavagens automáticas.
E com um bocadito de sorte, ainda apanhamos o indígena com uma esponja ensaboada, a dar banho à minhoca no Jardim do Lago … (1)
Mas não se fica por aqui: se o teimpo estiver de feição, cola-se na bicha para serra, carrega o carro com bocados de neve e regressa à Covilhã com a satisfação do dever cumprido.

(1) Omitimos ostensivamente outras características do cromo, de modo a não suscitar melindres familiares.

Escrito por Fagundes o Esperançoso