quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Ainda há basbaques

Algumas pinceladas na memória colectiva da Covilhã, desenharam um indígena, que ainda hoje, passeia virtudes pelo burgo.

O covilhaneinse-basbaque apresenta diferenças significativas em relação ao seu antecessor, o covilhaneinse ele próprio, pois tem uma natureza mais contemplativa e estática, que o une de modo umbilical ao canto pátrio que o viu parir.
Pensa-se que esta criatura teve origem nessa espécie de (feios, porcos e maus), designada de Tonhos, cuja evolução se registou, paulatinamente, nas grades do antigo Pelourinho: lugar propício ao lançamento de piropos a donzelas desprevenidas, enquanto expectorava pró ar e sacava das narinas bolinhas de pingue-pongue.
Ao longo do teimpo, esta fauna de mirones foi-se perfilando pelo centro da urbe e outros locais estratégicos, onde decorriam as propaladas obras do condomínio. Ainda hoje, aparecem com frequência, pelo burgo, armados em Mestres de Obras; esfalfam-se por um lugar ao sol em poses para todos os gostos e feitios, podem mesmo vislumbrar-se alguns manguitos de Bordalo, e outras posições acrobáticas que lhe permitam observar as movimentações telúricas.

O covilhaneinse-basbaque, vive verdadeiramente obcecado pelas obras de construção civil, que é como quem diz da paróquia; de cada vez que se bota abaixo um prédiozito devoluto, se movimentam terras para construir um centro comercial, uns murais de azulejo (típicos da região onde vive o basbaque), ou um parque de estacionamento; lá está ele especado como um poste, com o seu ar de espanto a congeminar arquitecturas de buraco, horários de trabalho, e outras coisas mais, que pelo seu carácter manual, prá-aqui-não-são-chamadas.
Isto de ser basbaque, obedece a hierarquias rígidas. Não é por acaso que, quando algum Chico-esperto se chega à frente e lhe tira a visibilidade, desata em impropérios prá mãezinha, e estica o anelar bem alto, como quem faz a marcação do terreno.

Bajulador confesso das obras de fachada no condomínio, este gentio, constitui a base social d’apoio do partido que governa a comarca.
Não raras vezes, o patrono, em jeito de reconhecimento, oferece-lhes o costumeiro espectáculo com o fabuloso Tony Carreira, e umas excursõesitas a santuários, e às grutas de Mira d’Aire, em troca de uma seca que promove colchões ortopédicos. Por vezes também vai a Espanha, não tanto pra visitar monumentos, mas no intuito de papar a paella (espécie de arroz à valenciana, que constitui a dieta domingueira do basbaque covilhaneinse).

Tonho

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