terça-feira, 11 de setembro de 2007

Nós e o olhar dos outros

Imagem retirada de http://www.belaspoesias.kit.net/imagens/olhos.jpg

A propósito de um guia turistico comentado no sitio, http://estrelanoseumelhor.blogspot.com/, que dá conta da cativante região da Covilhã e da sua Serra altaneira, veio-me à memória o olhar da estranja num canal do Cabo, que se recriava pela patria-lusa, com imagens dum Portugal etnográfico com pescadores e mulheres do campo vestidas de negro. Pensei num primeiro relance tratar-se de um documentário sobre o cinema português da década de cinquenta ou sessenta: Lopes Ribeiro? Leitão de Barros ?
Mas não. Tratava-se isso sim, de evocar a imagem grotesca de um Portugal arcaico, ainda mergulhado na festa dos descobrimentos, dos monumentos nacionais, e do fado à mistura com o nevoeiro sebastianista. No meio de toda aquela amálgama, lá apareceram o Eusébio e a Amália, como representação simbólica de uma certa e estranha forma de vida, alimentada pela retórica parda do fascismo salazarista. De maneira que só faltou o Galo de Barcelos, como neste guia sobre a Serra da Estrela.
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Não fora tudo aquilo má-fé, ou ignorância, e cremos que não era, só podia ser uma conspiração contra o sentimento pátrio, na tentativa de confundir a identidade nacional com ambiências regionais dum Portugal que já não existe, ou talvez exista e não damos conta dele.
A verdade é que, ainda hoje, em pleno século XXI, não há por parte do estado português, uma verdadeira política de divulgação e consolidação da cultura portuguesa actual no exterior, ou quando existe, aparece numa perspectiva fragmentada com tendências passadistas e redutoras.
A cultura portuguesa contemporânea, seja lá o que isso signifique, continua desconhecida da maioria dos portugueses.
Não será por acaso que Saramago só é conhecido porque ganhou o prémio Nobel, ou que Lobo Antunes é o escritor português mais lido, porque nos retrata como feios-porcos-e-maus, desenhados em paisagens miserabilistas.
O problema muitas vezes reside em nós, porque não nos estimamos o suficiente para construirmos uma imagem positiva. Continuamos atolados num provincianismo bacoco. O tom que ainda predomina é o do lamento e da auto-depreciação, do fado, esse pathos colectivo que permanece como património genético. É por isso que o outro nos olha assim.