quinta-feira, 24 de abril de 2008

No pelourinho o vazio

Eram 21 horas de um dia de Abril de 2008, mas podiam ser outras horas e outros dias. Pêro da Covilhã deixa escorrer o olhar desde a Praça do município até à Igreja da Misericórdia. Vislumbram-se dois passeantes avançar pelo meio da calçada em direcção à Rua Direita. Um miúdo, ensaia algumas acrobacias de skate por baixo das arcadas. Ao fundo da rua, o autocarro do Rodrigo aproxima-se em marcha lenta. Também está o carro da polícia estacionado sem condutor junto ao antigo Cafè Montalto. Eis o que resta de um Pelourinho vazio na cidade digital.

Se calhar a ideia de acabar com o Pelourinho, teve alguma generosidade, e talvez sobre ela se tenha escudado a intenção de dar a cidade a fruir aos seus cidadãos, como quem diz, dar lugar aos peões, mas o vazio em que aquilo se transformou, faz doer a alma ao mais distraído dos covilhanenses.

O Pelourinho converteu-se numa praça niilista, pela ausência de tudo e mais alguma coisa; porque quase já não tem cafés, não tem lojas abertas, não tem equipamentos culturais, porque continua a ser cada vez mais um lugar de passagem, e cada vez menos um local de passeio habitual dos covilhanenses. e, finalmente, porque alguém se encarregou ao longo do tempo, de por em prática um plano que conduziu ao extermínio do espaço público no centro da cidade. Se não for possível devolver ao Pelourinho a vida que lhe tiraram, ao menos dêem-lhe alguma dignidade.

Nunca tão poucos fizeram tanta ruína em tão poucos anos... sozinhos

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