sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Geração parva em desfile contra quem ?


É uma idiotia culpabilizar a geração de 60 e 70 pelo estado da precariedade e descalabro dos juvenis do século XXI, quando as razões objectivas que as originaram foram outras e elaboradas de forma eficaz para gerar pós universitários acéfalos, dependentes, os tais que estão à rasca e ainda por cima são parvos.
Obviamente, que há um aproveitamento demagógico e provinciano da música dos Deolinda, tanto pela direita troglodita como por alguma gauche, soixant huitard, que deu azo ou asas a um protesto geracional com uma cançoneta transformada num hino de revolta global tuga. Depois, a Ana Bacalhau,uma garina esperta, que se inscreve na tradição clássica do lirismo português, deve estar-se bem nas tintas pró desmando pueril e já se tornou hoje, numa espécie de Quim Barreiros das meninas e meninos da urbe, só que vende um produto, digamos assim, mais refinado para entretenimento de parvas e parvos. São uns pândegos…heheheheehe

Nada se ganha com esta abordagem de forma superficial, perdularia e demagógica.
Pretender associar o conceito de desigualdade a direitos básicos e virar novos contra velhos é de uma indigência mental que até mete dó. Como se não fosse o mesmo drama estar desempregado aos 24 anos ou ser despedido aos 48. Façam-se à vida.

12 comentários:

Debuxo Urdaz disse...

Caro Tecelão:
Teces bem, mas não me alegras...
apenas porque entendo que uma nova geração tem sempre o direito e o dever de dizer o que lhe vai na alma... pena é que sejam tão poucos os exemplos!
Do que me recordo, todas as novas gerações sempre foram alcunhada e, mesmo, caluniadas pelas anteriores... será isto um sinal?
É mais que certo que todas as gerações têm uma memória selectiva em relação ao que entendem para se definir a si próprias e se arrogam para si o conquistar de victórias quase sempre questionadas a montante e a juzante...Mas sempre victórias!
A actual não creio que seja nem mais nem menos parva que as me resisto as esquecer, incluindo a de que faço parte.
E, à sua maneira, vai despontando...não como as outras gostariam, mas sempre como os seus actores podem e querem!
C'est la vie...mon chere!

tecelao disse...

Finalmente alguem que aparece a discordar do que escrevo.Fico feliz por ti e por mim.Eheheheheh Sem mais delongas passemos entaõ ao que interessa:
Longe de mim querer alegrar-te com tamanha pimbalhada. Escuso-me meismo a comentar a pretensa superioridade do alegado “bom gosto musical” dos Deolinda, que até considero estetica e artisticamente pobre. Mas é o que há, numa pátria onde campeiam os Quim Barreiros, Tony Carreira ou Emanuel como referências musicais desta e outras gerações. Não te desejo pois tanto mal. Era outa estoria.

Mas para ir já direito ao assunto: o que eu quis dizer no post é que esta canção cujas generalizações, sendo genericamente acertadas, foram de algum modo aproveitadas tanto pela esquerda como pela direita.Seguramente no intento, pouco sustentado, de introduzir o conceito de Egipto na tuga a pátria. Como sabes são e realidades diferentes, motivações antagónicas que jamais poderemos equivaler.
Bom as para ser mais objectivo, parece-me que no centro desta polémica oportunista no meu ponto de vista, alguns pos unversiratios “qualificados”, sentem-se no direito de ser absorvidos pelo mercado de trabalho, sendo remunerados de acordo com um critério a que fazem equivaler um grau académico que nada tem ver com as necessidades do mercado de trabalho, sendo que, na maior parte dos casos as universidades não conferem necessariamente: competências de acordo com as realidades do país.
O que fazer então nestas circunstâncias?
Em primeiro lugar, dizer que esta geração perdeu a percepção das mudanças na sociedade portuguesa decorrentes de politicas neo liberais globalizadas (podemos concordar/discordar, mas elas existem) estaõ aí para nos azucrinar o juízo por umas décadas. Digo eu, Por isso reafirmo: façam-se à vida, tornem-se mais expeditos a perceberem as mudanças e a adaptarem-se a estas, pelo que estudem até ao tutano, emigrem em busca do mercado de trabalho e/ou arranjem génio, iniciativa e liderança suficiente para criar o emprego/negocio próprios. Cést la vie como dizes e bem, essa putain respecteuse, que Sartre imortalizou.

Anónimo disse...

Chapeau Tecelão.
É isso mesmo.

O Bom Selvagem disse...

É mesmo...façam-se à vida! Cultivem-se, preparem-se e sejam adultos o suficente para lutar contra dificuldades...é muito bonito ser-se um jovem revolucionário cheio de ideias prá frente, mas quando elas começam a doer...ai doi. Quanto a culpabilizações das gerações anteriores...o fado é o mesmo só muda a guitarrada. Estamos fartinhos de saber isso! Ok! Algum dia isto tinha que estoirar...

tecelao disse...

Nem mais

H2SO4 disse...

O post do Debuxo Urdaz tem algo óbvio, mas esquece outras questões. Catalogar esta insatisfação como um ajustar de contas com a geração dos 60s e 70s não é propriamente, em minha opinião, o que move estes jovens. A causa do desânimo e desconforto desta geração reside no facto de não conseguirem alcançar todos os bens e serviços que o século XXI pôs à sua disposição, porque não encontram fontes de rendimento para tal. O mercado de trabalho não absorve esta massa de licenciados, que em aptidões profissionais ficam resumidos a pouco mais que uns saberes rudimentares e alguma cultura geral. As áreas com mais capacidade de absorção a nível de emprego, situam-se em indústrias e serviços onde os pré-requisitos são mais exigentes. Assim, encontramos hoje uma mole de jovens à procura do primeiro emprego, que aquilo que têm para oferecer é de tal maneira desinteressante que é difícil a sua inserção no mundo do trabalho. Os culpados desta situação, ao contrário da opinião debitada por alguns ultra liberais e passadistas da nossa praça, não reside na massificação do ensino – defendem estes que o acesso ao ensino superior devia ser mais selectivo e exigente, como antigamente – mas sim da política aplicada pelas Universidades, que ao invés das necessidades da sociedade, promovem licenciaturas que mais não servem do que satisfazer pais e alunos pouco exigentes. Desta maneira, formou-se o caldo perfeito para esta juventude entrar na proletarização dos baixos salários, na baixa qualificação, na baixa auto-estima, na procura de afectos para as suas frustrações. Ana Bacalhau e os Deolinda são neste momento o catalisador para uma causa que à partida não é mais que um movimento inconsequente, porque para ter consequências é necessário objectivos políticos claros, e, nesse ponto, esta geração comparada com os 60s é um arremedo de ideias claras.

Anónimo disse...

Compreendo o Tecelão e o h2so4. Há uma geração não qualificada que tomou para si os direitos adquiridos e isso não se pode discutir. Que vegetam pelos serviços públicos sem formação profissional ou habilitação superior e estão a desempenhar funções para as quais não estão credenciados. A UBI é um bom viveiro desta gente, basta fazer uma visita pelos serviços.

Anónimo disse...

Trabalho por conta própria (profissional liberal, a recibos veredes) desde que saí da universidade. Ainda antes de terminar o meu curso de 5 anos (licenciatura não bolonhesa) já trabalhava em gabinetes da minha área. Antes de ter estudado na universidade já ajudava em casa, mas mesmo assim dia 12 Março contém comigo no protesto. Porquê?
Quando se é professor universitário ou já se tem o "tacho" garantido em qualquer lado, é sempre muito fácil estar a dizer aos outros que "façam-se à vida" ou "criem emprego próprio"... agora o que eu pergunto é, com o estado da economia actual, em que o rendimento das pessoas é praticamente para pagar impostos, quem é que se aventura a criar emprego próprio? A carga fiscal para abrir qualquer empresa (e já nem vou falar de licenciar estabelecimentos, etc) é altíssima, pelo que provoca o desencorajar de qualquer pessoa, mesmo a mais empreendedora, de criar o que quer que seja...
E o problema principal qual é? É por exemplo que pessoas como eu, quer recebam €s ao final do mês ou não, tenham que contribuir para a Segurança Social de forma a que esta entidade de Boys, possa continuar a pagar as reformas chorudas que muitas pessoas estão a receber agora.
Como é que por exemplo há professores do ensino primário reformados a ganhar reformas de 3000 e mais euros? Alguém me explica? Como é que há antigos quadros de câmaras (daqueles que entraram no bom tempo) que chegam à reforma a ganhar 3000 e mais euros?
Quando se fala de confronto de gerações uma coisa é certa, é óbvio que terá que haver confronto de gerações, porque a chamada geração à rasca é aquela que está a pagar as reformas dos seus pais sabendo que quando chegar à idade dos seus país não terá nada para receber...
Portanto, "façam-se à vida", eu todos os dias me faço à vida, para pagar os meus impostos, para que certos professores universitários e afins possam continuar a mandar papaias desde as suas secretárias nas horas livres...

ps: para finalizar, gostaria de referir apenas duas coisas:
1- a música de que tanto se fala dos deolinda não passa de show off, creio que a outra musica deles ("movimento perpétuo") se adapta bem melhor à mentalidade portuga, quer de jovens e menos jovens.
2- como fã incondicional do vosso blogue foi com enorme tristeza que vi que não fazem a mínima ideia do que é (sobre)viver com salários de treta como os que se verificam na actualidade...

tecelao disse...

Anónimo das 17 e 40,
Obrigado pela compreensão, mas como não sei de que falas, o teu comentário merece-me apenas um melancolico encolher de ombros

Anónimo das 19 e 19,

Misturas no teu comentário uma serie de alegações, que ate me merecem alguma aceitação, mas depois espalha-te ao comprido quando te pões a fazer juízos de intenção e adivinhação sobre os outros que pensam de modo diferente do teu.
Em primeiro lugar e para nos situarmos na essencia do post, começo por te dizer que este texto teve como ponto de partida a musica dos Deolinda, onde apenas vi alusões, ainda que vagas, a estágios não remunerados.
Depois, o que encontro, objectivamente nesta canção, são referências que facilmente se colam a quadros ideológicos ambíguos e contraditórios, (lê com atenção o comentário de H2SO4) que deram origem ao movimento que pulula no facebook, por isso o considero pouco sustentado.
E se é verdade que há 15 anos estávamos perante uma geração apelidada de rasca por mostrar o cu, hoje continua à rasca, mas por outra razão, igualmente, pouco digna: não ter tomates para assumir ideologicamente e de forma clara aquilo que defende. Essa é que é a razão substancial,vou deixar de parte outras motivaçoes de natureza estrutural da nossa economia para não me alongar no comentário.
E qual é o mal de cada um se fazer à vida, tratar da sua vida e encontrar um meio de se sustentar e realizar? Não será isso também uma manifestação de liberdade individual?
Porque não aceitar uma nova mobilidade laboral, como já referi no comentário anterior, e com particular ênfase dentro do espaço europeu, também fruto desta alteração de mentalidades?
O problema é que continuamos a insistir nesta ideia cretina, que se pretende passar de “conflito geracional” e duma flagrante ausência de percepção da realidade do mercado de trabalho na tuga patria. E não será grave a sistematica e proclamada alarvice, de que Portugal seja um país em que estudar não compensa, quando o diferencial, medido na probabilidade de cair no desemprego e na remuneração expectável, é um dos mais altos da OCDE ? É esta organização que o diz. Foi de lá que retirei a frase.

Claro que também não me parece justo que se tenha de recorrer sistematicamente a recibos verdes, ou a estágios gratuitos, esse, é, aliás, um sinal de que a nossa economia funciona principalmente à base do incumprimento. generalizado, Mas essa é já outra estória.
O resto da argumentação está contida no excelente comentário do H2SO4, não vou por isso repeti-la.

vermedasantilhas disse...

O mercado de trabalho não absorveria nunca a mole de licenciados que as universidades devolvem à sociedade, não só porque esses não adquiriram capacidades especificas às necessidades do mercado (H2so4), mas também porque o próprio mercado impõe que cada geração de licenciados seja capaz de gerar um numero suficiente de empreendedores que, uma vez estabelecidos, venham a absorver uma parte significativa dos recém-licenciados da mesma geração. Ora, aqui nasce o cerne da questão, as universidades não têm vocação para formar empreendedores, de sobremaneira na área da industria e por isso lançam no mercado indivíduos com perfil de empregabilidade dependente, quero dizer, incapazes de tomar em mãos uma iniciativa estruturante. As universidades não acalentam os anseios de pais e alunos pouco informados, como afirma H2so4, elas sustentam uma mutação dos ideais que antes eram de propagação da sapiência e agora se tornaram astutos no comercio das expectativas da família, a saber: “Venderam a alma ao comércio global”.
Quanto aos Deolinda e ao anzol que lançaram (que tão bem sucedido foi), cabe-me sustentar que todas as gerações sentem necessidade de encontrar um icon referencial, é como uma âncora que os acolhe, os define e os diferencia. O lema desta geração não é tanto o da angustia ou da incerteza, porque esse é concerteza o dos pais que anseiam pelo enquadramento dos filhos na sociedade. O lema desta geração é sobretudo o da ansiedade, a vontade empedernida de aceder aos bens de consumo sem restrições e aqui estou de acordo com H2so4 quando afirma que “A causa do desânimo e desconforto desta geração reside no facto de não conseguirem alcançar todos os bens e serviços que o século XXI pôs à sua disposição”.
A canção dos Deolinda tem no mínimo o mérito de concatenar a insipiência das valências adquiridas nas universidades com o conteúdo paupérrimo do texto da canção.

tecelao disse...

vermedasantilhas,
Era isto que eu gostava de ter escrito nos dois comentários anteriores e não consegui.
Obrigado.

Debuxo Urdaz disse...

epá...a densidade dos comentário é exasperante!
e parecendo que não, para a malta que trabalha para o estado (que somos todos...), é dificil arranjar tempo para isto...
È impossivel não concordar com muitas das posições que aqui foram reflectidas, no entanto, não podemos esquecer que, no fundo, se trata mesmo de uma questão de gap geracional!
Podemos criticar a actual, de todas as formas e feitios... Mas nunca poderemos é enjeitar que o estado de coisas que existe, é e sempre será da responsabilidade das nossas anteriores gerações!
Desde o modelo de sucesso criado nas ultimas décadas que se alicerça em ter um curso superior como solução para tudo... onde tudo e todos se aproveitaram para sugar o que havia e não havia... Passando pelo anestesiamento imposto por tv´s e consolas de jogos, para que os putos não chateiem e se entretenham sozinhos... Até ao tratamento de choque que hoje somos forçados a viver... é da "nossa" lavra!
estes que agora estrabucham e com razão, mais não fazem o que nos ja fizemos por outras e porventura menos importantes razões!
Aproveitamentos à parte, e sem qualquer outra intenção, fico feliz e apoio, com esperança, os protestos que a actual Geração tem de fazer!
Força! e mandem estes gaijos pedantes e reaccionários dar uma volta...