sábado, 30 de abril de 2011

enlatados da RTP

O filme "Eu sou a Lenda", que passou ontem na RTP l é mais uma demonstração do puritanismo pátrio yanque, que começou a surgir no cinema, de modo alarmante, desde o 11 de Setembro, revestindo os filmes norte-americanos de um tom patriótico excessivo: onde havia pessimismo, Hollywood vê esperança, se não a houver, inventa-se. Dá a sensação que o recente cinema americano criou um molde, no qual encaixa, indiscriminadamente, todos os seus argumentos, ficando a capacidade de surpreender, inexoravelmente, mutilada. Trata-se de uma longa-metragem descompensada ao nível estrutural: se na primeira metade o ritmo narrativo é aceitável, os derradeiros minutos são absolutamente compactados com explosões e tiros, como se ainda faltasse esse elemento de compromisso, introduzido para saciar os pueris espectadores, ávidos de movimento e violência gratuita.
Logo no Inicio do filme assistimos a uma descrição inadequada (um irremediável cliché caricatural) da rotina diária e do sentimento de solidão que acompanham o personagem interpretado por Will Smith e a sua cadela, numa Nova York destruída por ridículos humanóides que se atiravam de cabeça contra tudo o que mexesse.
Apesar disso, esta fase da narrativa, ainda começa por gerar no espectador, alguma curiosidade: duas almas abandonadas em busca da sobrevivência a qualquer preço, no meio dum caos cristalizado, por mais utópica que pareça, prende o basbaque incauto ao ecrã.
Até aqui tudo bem. Mas a coisa, aos poucos, começa a descambar quando os efeitos digitais tomam as rédeas da história, descentrando o fio narrativo, conduzindo-o para um banal filme de acção pós apocalíptico, esquizofrénico e moralista. Sucedem-se cenas inverosímeis, onde uma horda de putativos zombies geneticamente modificados, saltam dos escombros a grunhir, atacando o cientista Neville e a sua cadela, em cenas repetidas “ad nauseam” e de uma inanidade confrangedora.
Mas como um mal nunca vem só, também não faltou o slogan resvaladiço que se desprende da história, com toque descaradamente religioso e verdadeiramente irascível da mensagem final: quando a ciência falha, resta-nos a fé. Pois claro
Em suma, uma autêntica merda.

2 comentários:

Anónimo disse...

Numa analise tão aprofundada nesse estilo próprio de critica, como é que não referes o filme de onde deriva a historia desse?

Uma historia interessante que gostei de ver na altura. Deixo o desafio de descobrires qual é.

Eu gostei do "I am legend" mas lamento não ser uma historia de todo original, baseando-se num bom trabalho feito e recontando a mesma historia de um modo totalmente diferente com personagens e cenarios diferentes.

carpinteira disse...

Não citei o autor/filme no qual se inspirou Will Smith, por uma razão simples: desconhecia Matheson e a obra que ele propôs. Mas segundo uma pesquisa que acabo de fazer sobre este autor, parece-me que a única coisa que restou nesta adaptação de “i am legend” foi o nome do protagonista.

Ou seja, a ”critica” que faço ao filme está a milhas de ser uma “análise tão aprofundada” como referes no teu comentário. De qualquer modo, agradeço a sugestão.