terça-feira, 28 de agosto de 2007

As Ruas da minha cidade

Covilhã, 41 graus centigrados. Armando transpira por todos os poros, postado na entrada do café, em redor da esplanada, pede cinquenta cêntimos ou um cigarro como se reclamasse o seu direito a existir, interpela o transeunte e nomeia-o de doutor, arquitecto ou engenheiro.
A lei do mais forte impõe-se no limite do mundo habitável, enquanto a obscura monotonia do fim de tarde lhe esconde o-olhar-baixo-nas-folhas-d’um-flyer-publicitário.
Faz-se tarde. As persianas trazem ruído ao baixar, o seu estrondo retumba nas paredes d'onde o quase-mendigo encosta o corpo. De repente, as Ruas da cidade esvaziam-se.
Um olhar perdido. O dano amortizado numa pensão de sobrevivência. A vida que se consome num princípio de noite sobre a calçada quente da Rua. Sofre, mas já não espera nada, vive nas margens de sonhos perdidos, aproxima.se do estado natural d'uma existência vã.
As Ruas coabitam condescendentes com a miséria, servem-se dela e dão-lhe guarida. Nós, os outros, fazemos parte da paisagem, como eles, mas o nosso papel exige conforto e outra sorte. Graças ao nosso instinto, sabemos ser cúmplices d‘essa ignorância ostensiva que oculta contradições e certezas. No entanto, ignoramos o que ocorre à nossa volta.

(A foto não é da Covilhã e foi surripiada a Rui Cruz algures em Lisboa)

3 comentários:

Anónimo disse...

que belo texto

Anónimo disse...

Oh meu amigo, que granda lata não?

Primeiro isso não é covilhã, é Lisboa (R. D. João V).
Depois estás a usar o meu tráfego e nem uma palavrinha.
Nem um link a dizer onde tiraste a foto...

Continua assim que é assim que os bloggers não vão longe.

Ah, e não te vou bloquear a imagem. Continua lá a usa-la.

Para quem quiser, o link do post original é: http://ruicruz.forunsbb.com/2006/11/06/acessibilidade-na-r-d-joao-v-lisboa/


Rui

carpinteira disse...

Caro Rui,

Tem toda a razão. Devia, ao colocar a foto que lhe pertence no blogue, mencionar a origem. Tentarei corrigir o abuso em tempo útil.
Quanto ao facto de ser uma rua de Lisboa, é completamente indiferente, o importante não são as ruas, mas sim as pessoas.
Desculpe.