quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Desengorda divina

Se é gorda, respeitável leitora, então nós vamos revelar-lhe algumas regras inspiradas na mortificação corporal da Opus Dei, que podem aumentar-lhe o gosto pela vida, e diminuir-lhe esse formato Michelin, onde pasta faustosamente uma grande quantidade de massa adiposa.

A ordem das alíneas é aleatória:

1- Pratique com regularidade exercício físico, se possível, diariamente, deambulando pelas ruas da urbe, numa atitude descontraída e intelectualmente reflexiva. Repare estimada leitora gorda, que poético; captar o instante nos head phones, ouvindo poemas de *Alberto Caeiro enquanto inala o fumo redentor dos automóveis que sobem e descem as avenidas da comarca.
2- Deixe lá os ginásios e a natação, estimada leitora. Quebre a monotonia claustrofóbica desses antros de suor; não deixe as suas proteínas derreterem-se à custa de exercícios tortuosos cavalgados em máquinas estéreis.
3- Ponha-se a andar às voltas na pista de Tartan no complexo desportivo da Covilhã até sentir as primeiras sensações de enjoo, se não vomitar não desista. Continue. Caminhar no complexo desportivo é cool.
4- Ao caminhar deve arrotar e peidar-se bastas vezes, de maneira a esvaziar a flatulência acumulada. Para tornar ainda mais eficaz a saída dos gases, pode a estimada leitora, apertar o cinto de cilício na parte abdominal, enquanto faz alguns alongamentos longitudinais.
5- Deve chicotear as nádegas, pelo menos, duas vezes por semana: a dor torna-se um elemento dissuasor da gula. Não aconselhamos a cama de tábuas, a não ser para o exercício compulsivo do pecado.
6- Se lhe faltar tempo, e se a desculpa são os filhos, então tem bom remédio: introduza-os, na máquina de lavar roupa com o Novo Testamento, de preferência num programa com pré-lavagem e de longa duração.
7- Como último recurso convide o seu marido (o que será sempre uma péssima opção) a partilhar consigo, esses momentos de êxtase meta(físico), Deixe-o escancarar as portas da viatura para secar as humidades e dê-lhe a ler um dos tijolos de Miguel Sousa Tavares, ou Café Montalto do Manuel da Silva Ramos. (ainda não constam da lista de autores proibidos pela Opus Dei).

* Heterónimo de Fernando Pessoa
Tonho

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