sexta-feira, 30 de maio de 2008

Castigo e classes sociais

A propósito do Dia Mundial da Criança, lemos por aí uns estudos a granel que nos apresentam a violência familiar, apenas em bairros periféricos, guetos sociais e em famílias problemáticas. Como se este tipo de violência fosse património exclusivo dos pobres da Covilhã ou d’outro sitio qualquer do mundo. Ora, na verdade, não é necessário ser especialista em estudos de natureza social e estatística, para se identificarem casos de violência familiar em ambientes supostamente estruturados, mesmo na designada classe média alta.
A disciplina através da violência, tem sido, e parece continuar a ser, a forma de resolver situações de desobediência do elo mais fraco da estrutura familiar, (mulheres e crianças), e acontece em todos os estratos sociais, tanto no “gueto” da Alampada, como na “classista” urbanização Belo Zêzere. Do grande número de pais, que recorrem ao castigo corporal e aos maus tratos físicos, por certo fazem parte, pessoas ricas e pessoas pobres.
Por outro lado, a violência familiar, só agora começou a ser reconhecida como um problema social, que ainda está longe do fim. Múltiplas razões podiam ser enumeradas aqui. Contudo, estamos em crer que ela vai resistir pela necessidade de assegurar e reforçar as relações de poder historicamente desiguais entre os membros da família, quer seja do homem sobre a mulher ou dos pais sobre os filhos. Sejam eles operários, técnicos superiores, professores ou empresários; todos sem excepção vão continuar a reproduzir uma atitude patológica e geracional. Sendo certo que o castigo tem ao longo dos tempos, resultado duma certa tolerância cultural: a sociedade acostumou-se à punição física, como procedimento educativo, dentro de uma estrutura de poder patriarcal e autoritária que não escolheu esta, ou aquela classe social para se instalar.

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