segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O silêncio da cidade

Hoje, chegou-me à lembrança aquele grupo de pessoas bem intencionadas, que resolveu clamar pelo espírito cívico da Covilhã; diziam que a intervenção democrática não se esgotava nos partidos. Pois, pois. (Era outra conversa, mas não temos tempo).Bom, a verdade é que a Covilhã continua a atravessar um momento, onde não se cultivam modos de reflexão politica ou cívica, que possam despertar a letargia reinante. A ausência de participação dos indígenas continua a fazer parte do quotidiano mórbido d’uma cidade em que o pensamento anda arredio e a dar sinais de definhamento.Mesmo aqueles que teriam obrigações éticas e responsabilidades politicas, abstêm-se da discussão pública, não só pelo conforto do alheamento que isso lhes proporciona, mas acima de tudo, pela gritante incapacidade de construírem raciocínios produtivos que provoquem a discussão pública. Depois há os outros; refugiados na sua Torre de Marfim, entediados com os seus dramas. Como bem refere Fernando Paulouro no editorial do JF sobre o ensino universitário da região: “ Há hoje ensino superior, mas a massa critica indispensável, não emerge desses centros de saber – também aí a debilidade da relação universidade-comunidade tem reduzida consistência.”
Ou seja, falta-lhes humildade suficiente para partilhar experiências na cidade que os acolhe. Mas principalmente, carecem de intervenção pública e de cidadania. Uns e outros, converteram-se numa espécie de rebanho a pastar na indiferença dos dias; são os grandes contribuintes do atavismo público covilhanense. Por isso, os dias passam iguais a todos os dias. Não se vislumbra nenhuma espécie de futuro que aspire a uma ideia colectiva de organização da cidade.
As únicas novidades na Covilhã parecem residir na figura de um presidente, que já teve a mania que era um frango, e que agora se sente perseguido pelos fantasmas da IGAL e quejandos.
Dá que pensar.

9 comentários:

Anónimo disse...

Tecelão,

Não adianta de nada (e até parece mal) clamar contra a pobreza da participação cívica, como se a elevação do nível dessa participação não fosse nada connosco. *É* connosco.

Não são só as universidades que se podem transformar em torres de marfim. Aos blogues (e até aos partidos políticos) também pode acontecer o mesmo (estou só a alertar, não pretendo insinuar nada sobre este ou aquele blog).

Mais de resto, concordo no geral com o quadro que pinta neste quadro.

Cumprimentos!

Anónimo disse...

O problema da participação civica hoje em dia é estar estar encoberta por interesses pouco claros, na maioria deles partidários, hoje em dia usa-se essa participação para ascender socialmente, seja em fundações, colectividades, etc... A participação "pura" sem a procura de uma causa/efeito desprendida de uma aspiração materialista é utópica. Por isso deixei de acreditar ou participar civicamente na nossa sociedade porque para isso teria que me associar a um partido... Restam os nossos blogues livres de qualquer pressão (alguns)

tecelao disse...

Caro, sinto a tentação acesa do engagé,

Acredite que também sinto a sua tentação, e também não pretendo insinuar nada. Porém, continuo a pensar que a UBI, vive num mundo à parte, longe da cidade. Foi sempre assim, desde a sua fundação.

Anónimo disse...

Este tecelao ainda não percebeu que escreve num blog destinado para meia dúzia de "iluminados", e que o povo, esse está longe da verborreia carpinteiral

Anónimo disse...

ó tecelao desta vez até que acertás-te na mouche. A UBI é uma vaca sagrada por estas pastagens. Esse sim, é um condominio, mas fechado.
Não te metas nisso.

Anónimo disse...

Pessoalmente nada tenho contra ler um, ou escrever num, «blog destinado para meia dúzia de "iluminados"». Deve ser porque eu me considero um desses meia dúzia. E tenho um certo orgulho nisso. Se não me sentisse pertencente a essa meia dúzia, não vinha aqui mandar bitaites.

Até porque é difícil mandá-los com um mínimo de relevância sem ler o que no Carpinteira se escreve, ou seja, sem pertencer a essa meia dúzia de iluminados. Talvez seja por isso (por serem escritos sem se ter lido o que, supostamente, os motiva) que alguns comentários (como o do anónimo das 13:08) são tão pouco relevantes (insultuosos, reconheço, mas mesmo assim irrelevantes).

Anónimo disse...

O Fernando Paulouro é bom exemplo: alberga o jogral da corte e assobia para o lado. Fica-lhe bem o pergaminho (pele de carneiro).

David Caetano disse...

Excelente artigo este. Contudo, penso que o problema da falta de envolvimento no movimento de partipação cívica não será tanto um problema da Covilhã mas mais da mentalidade portuguesa em geral, embora eu tenha de admitir que, vista de fora (não sou nem vivo na cidade), a Covilhã parece uma espécie de feudo onde a contradição não é recomendada.

tecelao disse...

Oróbio de castro,

A citação do Fernando Paulouro, é uma pequena parte do texto, e pareceu-me um bom exemplo no seguimento do que estava a ser escrito.
Você resolveu atribuir-lhe o epíteto de uma cantiga medieval.
São pontos de vista, e quanto a isso…