segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Covilhaneinse, edição revista e aumentada

Desconhece-se a origem desta espécie, mas há estudos antropológicos que apontam para o Jurássico, e numa fase posterior para a influência dos povos bárbaros.
Pensa-se que o seu percurso genético emerge d’uma ovelha, evoluindo, ainda que lentamente, para formas comportamentais, mais ou menos eruditas, e tantas vezes próximas do cão de Pavlov. À medida que o pasto foi escasseando, o cromo pegou na mala de cartão e iniciou a transumância prá estranja, onde à custa de sangue suor e lágrimas, amealhou o cacau suficiente pra erguer a maison com a mais requintada azulejaria.

De maneira que ao longo do teimpo, este nativo, incorporou algumas idiossincrasias que o tornaram impar na lusa pátria. A primeira, digna de registo, é gastronómica, tem provavelmente origem em "nuestros hermanos", do sul peninsular. Trata-se do célebre arroz à valenciana que, vá-lá-saber-se-porquê, a criatura papa todos os Domingos ao almoço, qual ritual litúrgico. Segue-se ao repasto, a caminhada do rebanho para o Shopping, onde o cafezito é tomado com pompa e circunstância, enquanto o paspalho dá uma volta ao bilhar-grande à espera de vez.
Outra variante do paisano, mais sedentária, encontra-se nas arcadas do pelourinho, onde o merecido pousio se amanha em cadeiras acorrentadas, enquanto cospe piropos alarves pró transeunte ocasional.

O Covilhaneinse é, pois, facil de identificar em qualquer dia da semana mas adquire maior visibilidade aos Domingos de manhã, ali prós lados do complexo desportivo, no parque industrial do Canhoso, ou do Tortosendo, tanto faz; lá está ele em fato-de-treino, com as mangas arregaçadas junto à sua viatura. Pois claro, de portas abertas a arejar o cheiro bafiento das humidades e a lustrar o cromado das jantes, que a vida não está para lavagens automáticas.
E com um bocadito de sorte, ainda apanhamos o indígena com uma esponja ensaboada, a dar banho à minhoca no Jardim do Lago … (1)
Mas não se fica por aqui: se o teimpo estiver de feição, cola-se na bicha para serra, carrega o carro com bocados de neve e regressa à Covilhã com a satisfação do dever cumprido.

(1) Omitimos ostensivamente outras características do cromo, de modo a não suscitar melindres familiares.

Escrito por Fagundes o Esperançoso

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