terça-feira, 28 de agosto de 2007

As Ruas da minha cidade

Covilhã, 41 graus centigrados. Armando transpira por todos os poros, postado na entrada do café, em redor da esplanada, pede cinquenta cêntimos ou um cigarro como se reclamasse o seu direito a existir, interpela o transeunte e nomeia-o de doutor, arquitecto ou engenheiro.
A lei do mais forte impõe-se no limite do mundo habitável, enquanto a obscura monotonia do fim de tarde lhe esconde o-olhar-baixo-nas-folhas-d’um-flyer-publicitário.
Faz-se tarde. As persianas trazem ruído ao baixar, o seu estrondo retumba nas paredes d'onde o quase-mendigo encosta o corpo. De repente, as Ruas da cidade esvaziam-se.
Um olhar perdido. O dano amortizado numa pensão de sobrevivência. A vida que se consome num princípio de noite sobre a calçada quente da Rua. Sofre, mas já não espera nada, vive nas margens de sonhos perdidos, aproxima.se do estado natural d'uma existência vã.
As Ruas coabitam condescendentes com a miséria, servem-se dela e dão-lhe guarida. Nós, os outros, fazemos parte da paisagem, como eles, mas o nosso papel exige conforto e outra sorte. Graças ao nosso instinto, sabemos ser cúmplices d‘essa ignorância ostensiva que oculta contradições e certezas. No entanto, ignoramos o que ocorre à nossa volta.

(A foto não é da Covilhã e foi surripiada a Rui Cruz algures em Lisboa)

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Covilhã perde indígenas

Os números do INE estão aí, e são elucidativos : A Covilhã perdeu 717 nativos entre 2003 e 2006, a maior perda populacional das cidades do interior.

Múltiplas razões podiam ser apontadas para tamanha perda de indígenas, muitos clichés como; a falta de investimento público e privado, a pouca atractividade, o aumento da taxa de mortalidade, e outras tretas. Contudo, nem o desenvolvimento sustentado, nem a qualidade de vida, apregoada pelos papagaios do pelourinho, podem ser esgrimidas para atenuar a sangria.
Na verdade, e apesar das politicas de extermínio do interior beirão que os governos do PS e do PSD tem levado a cabo, o certo é que, a Covilhã tem sido bafejada por alguns investimentos, de que é exemplo a faculdade de medicina.

Que razões objectivas levarão a fauna a desaparecer da cidade neve ?

Outro enigma?

Descubra-o caro leitor.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A leitura e os Nike

Retomamos um post publicado a propósito do dia mundial do livro, e que foi até hoje, aquele que teve o maior número de visitas,

Durante todo o dia levámos com a verborreia da efeméride. Todos os nativos falaram da leitura e da forma de a promover, Mas os hábitos de leitura, não devem fixar-se apenas no gesto circunstancial, ou na obsessão do pasquim semanal e desportivo. Alguns analistas do eduquês acusam a televisão e a net, desse nosso descuido pela leitura. Esquecem-se que, antes do advento da net e do consumo de sub-produtos televisivos como a bela e o mestre, a floribela e outros que tais, o cidadão comum, mesmo a elite pseudo-cultural também não lia.

Por outro lado, muitos dos professores que criticam os alunos por não lerem, também eles próprios não lêem, ou lêem muito pouco. Muitos pais preferem gastar somas avultadas de dinheiro para comprar os Nike para os filhos, mas reclamam quando a escola lhes pede que comprem livros. Ou seja, mais vale investir nos pés da criança do que na sua cabeça.
Não se apressem para transformar as nossas crianças em leitores, em bons leitores, e depois digam que eles eternizaram o nosso destino de pobreza e ignorância.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007


Vida

"Calados, mudos,
no buraco metidos,
sem coragem de nos mexermos,
de medo transidos
sempre despertos os cinco sentidos
não cheguem lá fora os ruídos
do mastigar das migalhas
das mesas caídas;
a vida cobarde a toda a hora agradecida,
como esmola recebida
...isto não, não é vida!"

[Joaquim Namorado, in Incomodidade]

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Qualidades

A paróquia continua animada no meio da calina.

A festa alegra-se com as demissões que os ministros do PS tem provocado em directores de teatro, de museus e outros que tais.

O problema é que os cargos públicos são cada vez menos de competência técnica, e cada vez mais de confiança politica, como aliás, foram na regência do PSD. Não se entende por isso, o tom preocupado que os indígenas manifestam com a qualidade da nossa democracia.
Vão-se habituando aos dislates, porque os batráquios em ascensão pelas capelas do regime, já trazem incorporados os tiques comuns de autoritarismo e da arrogância, perfeitamente normais nesta espécie de socialismo.
Pois é, a fauna continua aos poucos a foder a democracia.