Da cidade fantasma à cidade fantástica.
Longe vão os tempos das tiradas torpes que vislumbravam no nevoeiro uma grande quantidade de matéria húmida.
Os tempos são outros; longe pastam os desabridos momentos que mergulharam o rebanho no desalento, e quase-quase nas bordinhas do precipício. O inominável epíteto de urbe fantasma há muito se dissipou. Faltava cumprir-se a Covilhã. Mas eis que avatares temporais e heróis de pacotilha a ergueram a pulso, e a tornaram hoje, Fantástica, envolta em jogos florais, Jardins de pedra e chá com biscoitos, que vão fazendo a delícia da plebe.
Repare o estimado leitor na proficiência de tamanha empreitada histórica que, à pala de logros imaginários e marketing barato, consegue enlear uma horda de cromos em promessas vãs e inaugurações em duplicado, mas principalmente, seduzi-los nos encantos reflexivos do patriarcado municipal.
O Homem quer a obra nasce.
Foi assim com o centro de artes, com a periférica à Covilhã e com as barragens; será assim com todas as obras importantes que hão-de nascer à sombra do mito, para além das coordenadas do tempo, e um dia, quem sabe, transformar a Covilhã no “nada que é tudo”.
É que agora os construtores são outros, não os da urbe real, mas da cidade Fantástica; uma obra que, aos poucos, vai assumindo uma dimensão simbólica, transportada em teleféricos de fantasia pelo inefável D. Sebastião do condomínio.
É certo que, qualquer patriarca ostenta um modelo de virtudes imaculadas; uma idolatria obscena, mas o grande golpe de cidadania é conseguir entreter o rebanho de condóminos na divina comédia do metal sonante, e no convencimento alarve de que a urbe vive o seu grande momento de glória.
Tiramos-lhe o chapéu.
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