Perante a foto, o leitor pode pensar que se trata da inauguração da piscina praia, ou qualquer outro evento com H2O. Mas não.
A presença de CO2 na atmosfera, já ultrapassou há muito os níveis desejados, aproximando-se agora de CO3.
Isto quer dizer que o assunto é muito mais sério do que parece; por isso, não deve ser negligenciado, ou suscitar o riso parvo, até porque o futuro, se houver, não irá trazer nada de bom.
A imagem remonta ao ano 2106, numa esplanada da comarca, por alturas do segundo aquecimento global e consequente subida das águas; três cromos, treinam exercícios anfíbios de adaptação às novas guelras.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
H2O e CO2
domingo, 23 de dezembro de 2007
Degelo
Lembramos o estimado leitor, que este mapa encontra-se desactualizado, pois, os novos estudos científicos acreditam que, a auguinha, por esta altura, (2093), esteja um bocadito mais acima, que é como quem diz nas bordinhas da pérfida C. Branco (antiga capital d’uma coisa a que os antigos chamavam de distrito).
Foi assim que, em 2093, após o desaparecimento por submersão de todo o litoral português e também algarvio, o destino preferido de férias dos aborígenes lusos transitou para a costa de Castelo Branco, com o seu porto de pesca Internacional, e praias de areia rugosa com uma forte componente de iodo.
Enquanto chega-e-não-chega a auguinha, ao lado de cá da Gardunha; na excelsa cidade de neve, o ano de 2093 ficou marcado pela inauguração d’uma piscina-praia, e um mega painel de azulejos (tradição iniciada com o decalque d'uma ovelha acéfala num muro de suporte), mas agora com as proeminentes figuras dos regedores da comarca desde a revolução dos cravos até ao último degelo. No futuro vale a pena visitar.
Tonho
sábado, 22 de dezembro de 2007
Entrega-se a quem provar pertencer-lhe
Estas palavras foram abandonadas à porta do nosso blogue, num dia frio de Outono. São o género de palavras que beijam; como gostaríamos de ter sido nós a escrevê-las.
São palavras belas.
Entregam-se a quem provar pertencer-lhe.
“Era pequeno, mãe, era pequeno mas sofria como os grandes, sofria como o pai sofreu antes de morrer, como o pai sofreu em silêncio, às escondidas, no quarto. Por vezes não adormecia logo e ouvia um choro, uma melodia constante. O pai não chorava como as crianças, o pai não tinha espasmos de dor, mãe, o pai chorava um choro único, um choro tão leve e tão constante como a dor que o obrigava a chorar, uma dor pequena, venenosa, uma dor que o foi levando, que o foi agarrando, que o foi possuindo como uma formiga vai possuindo a sua comida: ao longo de muito tempo a amealhar para depois descansar. A dor pequena era uma formiga que passeava nele e que lhe ia levando a força, uma formiga que conseguiu ao fim de algum tempo de trabalho árduo levá-lo de vez, levá-lo todo. Um dia ouvi o choro e levantei-me da cama e fui ao quarto. As lágrimas caíam-lhe, mãe, as lágrimas caíam-lhe como tu sabes que caíam. O meu pai a chorar escondido no quarto para eu não o ver, um pai a esconder que chora do filho. Naquele momento hesitei entre ir lá e abraçá-lo e apoiá-lo e nada fazer, apenas ficar ali, a ouvi-lo chorar e a sentir aquele choro a ser também o meu choro. E depois lembrei-me de ti, mãe, lembrei-me de te abraçar e de te pedir ajuda, lembrei-me de te abraçar e de te perguntar o que é que deveria fazer, o que é que eu podia fazer para o pai ficar bem, para o pai parar de chorar. Fui à sala e encontrei-te, mãe, encontrei-te tão dor como o pai, tão choro como o pai, e fiquei ali, entre o teu choro e o choro do pai, a chorar o meu choro, e a nossa casa era o que sempre foi: uma casa de choros escondidos, uma casa de dores guardadas, de dores cobardes. Ali dentro, na nossa casa, todos sabíamos que sofríamos e que tudo era sofrimento: o pai, eu, tu. Cada um com a sua doença, cada um com a sua mentira.”
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Vade retro
Caro cronista académico,
Partilho por inteiro, o seu desassossego quanto à putativa “escolha de políticos no activo”, para a assembleia estatutária do colégio covilhanense, ou não estivesse a comarca pejada de figuras imberbes, à espreita de uma oportunidadezita para uma certificação de competências à bolonhesa, quem sabe até, um doutoramento “Honoris causa”. Pois, pois!
Vinha mesmo a calhar, oh se vinha!!!
Há por aí umas criaturas de omnisciência divina, que já se devem ter fartado da proverbial missão de apascentar jumentos em cerimónias inaugurativas; aguardam agora, pacientemente, pelo reconhecimento da obra biodegradável tão higienicamente edificada.
Imagine caro cronista, alguns patronos da polis, depois de uma vidinha em exercício insalubre de culto da personalidade, e banalidade costumeira, sobre como se devem evangelizar os gentios, passearem agora toda a sua parolice deslumbrada pelos corredores do colégio ubiano. Era lindo, lindo, lindo.
Eu gostava de ver a fé luminosa brotar de tamanhas cabeças tão piedosamente mudas. Vade retro.
Saudações colegiais e boas festas
Ermengarda
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Ainda há basbaques
Algumas pinceladas na memória colectiva da Covilhã, desenharam um indígena, que ainda hoje, passeia virtudes pelo burgo.
O covilhaneinse-basbaque apresenta diferenças significativas em relação ao seu antecessor, o covilhaneinse ele próprio, pois tem uma natureza mais contemplativa e estática, que o une de modo umbilical ao canto pátrio que o viu parir.
Pensa-se que esta criatura teve origem nessa espécie de (feios, porcos e maus), designada de Tonhos, cuja evolução se registou, paulatinamente, nas grades do antigo Pelourinho: lugar propício ao lançamento de piropos a donzelas desprevenidas, enquanto expectorava pró ar e sacava das narinas bolinhas de pingue-pongue.
Ao longo do teimpo, esta fauna de mirones foi-se perfilando pelo centro da urbe e outros locais estratégicos, onde decorriam as propaladas obras do condomínio. Ainda hoje, aparecem com frequência, pelo burgo, armados em Mestres de Obras; esfalfam-se por um lugar ao sol em poses para todos os gostos e feitios, podem mesmo vislumbrar-se alguns manguitos de Bordalo, e outras posições acrobáticas que lhe permitam observar as movimentações telúricas.
O covilhaneinse-basbaque, vive verdadeiramente obcecado pelas obras de construção civil, que é como quem diz da paróquia; de cada vez que se bota abaixo um prédiozito devoluto, se movimentam terras para construir um centro comercial, uns murais de azulejo (típicos da região onde vive o basbaque), ou um parque de estacionamento; lá está ele especado como um poste, com o seu ar de espanto a congeminar arquitecturas de buraco, horários de trabalho, e outras coisas mais, que pelo seu carácter manual, prá-aqui-não-são-chamadas.
Isto de ser basbaque, obedece a hierarquias rígidas. Não é por acaso que, quando algum Chico-esperto se chega à frente e lhe tira a visibilidade, desata em impropérios prá mãezinha, e estica o anelar bem alto, como quem faz a marcação do terreno.
Bajulador confesso das obras de fachada no condomínio, este gentio, constitui a base social d’apoio do partido que governa a comarca.
Não raras vezes, o patrono, em jeito de reconhecimento, oferece-lhes o costumeiro espectáculo com o fabuloso Tony Carreira, e umas excursõesitas a santuários, e às grutas de Mira d’Aire, em troca de uma seca que promove colchões ortopédicos. Por vezes também vai a Espanha, não tanto pra visitar monumentos, mas no intuito de papar a paella (espécie de arroz à valenciana, que constitui a dieta domingueira do basbaque covilhaneinse).
Tonho
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Nota breve
Assim, para atenuar algum excesso, senão mesmo abuso da sintaxe, onde se lê:
"exercício compulsivo do pecado", deve ler-se: prática de fornicação à fartazana
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
O que fazer a um condómino quando deixa de pagar as refeições
Caro patrono do condomínio
Vossa Exª continua, laboriosamente, semana após semana, a erigir o seu fabuloso monumento à Inteligência dos condóminos. Esta última então, foi surpreendente, e olhe que quase me passava despercebida; mais uma arenga fabulosa em prol das maravilhas mil do condomínio covilhanense, prenhe de felicidade, esplendor e glória.
Grande ideia essa, de tornar públicos os nomes dos caloteiros da comarca, que deixaram de pagar o pequeno-almoço das criancinhas. Comunistas é o que é.
Saiba Vossa Ex.ª que quando li a noticia, pareceu-me mais um exercício de estilo e uma ficção cuidadosamente elaborada das suas capacidades de gestão do dinheiro alheio, que uma verdadeira ameaça ao gentio devedor.
Já não há respeito. Ao menos que seguissem o exemplo da Câmara da Covilhã, que não deve nada a ninguém. Não deve não senhor.
Ainda há quem diga que os tiques de vossa Ex.ª são histérico-repetitivos, e que continuam bem vivos na comarca, como na maioria das sociedades primitivas. Um exagero de meia-dúzia de intelectuais de gauche.
Pelo contrário, eu acho que este seu gesto, só vem provar o quanto Vossa Ex.ª anda consumido de humildade e paternalismo bacano.
Como eu compreendo o seu glorioso desembaraço, caro patrono !
Querem fiado? Vão ao Totta.
Eles não sabem nem sonham o que custa viver, diariamente, com esta horda de desleixados, que nunca pagam o que comem. Uma pessoa até se sente sufocada neste meio subterrâneo, povoado por trolls abomináveis e cromos endividados até às orelhas. É verdade sim senhor.
Aqui pra nós que ninguém nos lê: isto já lá não vai com a publicação dos nomes em boletins quinzenais. Se fosse a si, caro patrono, perfilava-os junto ao mural das freguesias e mandava-os fuzilar. Há pois.
Foi um prazer
Ermengarda
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Desengorda divina
A ordem das alíneas é aleatória:
1- Pratique com regularidade exercício físico, se possível, diariamente, deambulando pelas ruas da urbe, numa atitude descontraída e intelectualmente reflexiva. Repare estimada leitora gorda, que poético; captar o instante nos head phones, ouvindo poemas de *Alberto Caeiro enquanto inala o fumo redentor dos automóveis que sobem e descem as avenidas da comarca.
2- Deixe lá os ginásios e a natação, estimada leitora. Quebre a monotonia claustrofóbica desses antros de suor; não deixe as suas proteínas derreterem-se à custa de exercícios tortuosos cavalgados em máquinas estéreis.
3- Ponha-se a andar às voltas na pista de Tartan no complexo desportivo da Covilhã até sentir as primeiras sensações de enjoo, se não vomitar não desista. Continue. Caminhar no complexo desportivo é cool.
4- Ao caminhar deve arrotar e peidar-se bastas vezes, de maneira a esvaziar a flatulência acumulada. Para tornar ainda mais eficaz a saída dos gases, pode a estimada leitora, apertar o cinto de cilício na parte abdominal, enquanto faz alguns alongamentos longitudinais.
5- Deve chicotear as nádegas, pelo menos, duas vezes por semana: a dor torna-se um elemento dissuasor da gula. Não aconselhamos a cama de tábuas, a não ser para o exercício compulsivo do pecado.
6- Se lhe faltar tempo, e se a desculpa são os filhos, então tem bom remédio: introduza-os, na máquina de lavar roupa com o Novo Testamento, de preferência num programa com pré-lavagem e de longa duração.
7- Como último recurso convide o seu marido (o que será sempre uma péssima opção) a partilhar consigo, esses momentos de êxtase meta(físico), Deixe-o escancarar as portas da viatura para secar as humidades e dê-lhe a ler um dos tijolos de Miguel Sousa Tavares, ou Café Montalto do Manuel da Silva Ramos. (ainda não constam da lista de autores proibidos pela Opus Dei).
* Heterónimo de Fernando Pessoa
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
H de (H)ortográfico
“Não faz qualquer sentido que este protocolo seja aprovado. Nós não queremos escrever palavras como 'Hoje', 'Húmido', 'Hilariante' sem H ...“
Cá pra nós que somos uns ignorantes, sempre achámos que a lingua é um organismo vivo, e como tal, sujeita a transformações. Não iremos alinhar em atitudes reaccionárias e conservadoras d’uma trupe jurássica, que ainda carrega nos (H)ombros esse “H” parasita sem fundamento etimológico. Ou então, ainda (H)é parente de algum servo da gleba.
Poderíamos aprofundar mais a prosa com outros tantos exemplos (H)idiotas mas não nos (H)apetece.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Longe vão os tempos...
Longe vão os tempos das tiradas torpes que vislumbravam no nevoeiro uma grande quantidade de matéria húmida.
Os tempos são outros; longe pastam os desabridos acontecimentos que mergulharam o rebanho no desalento, e quase-quase nas bordinhas do precipício. O inominável epíteto de comarca fantasma deslocou-se para o putativo deserto de Alcácer Quibir . Faltava cumprir-se a Covilhã. Qual Quê!!!
Avatares temporais e heróis de pacotilha ergueram-na a pulso, tornaram-na hoje, Fantástica, com jogos florais e Jardins de pedra que fazem a delícia da plebe. Pois pois.
Repare o estimado leitor na proficiência de tamanha empreitada histórica que, à pala de logros imaginários e marketing barato, consegue enlear uma horda de cromos em promessas vãs, mas principalmente, seduzi-los nos encantos reflexivos do patriarcado municipal: “o Homem quer a obra nasce”. Foi assim com o centro de artes, será assim com todas as obras que hão-de nascer à sombra do mito, para além das coordenadas do tempo, que hão-de transformar a Covilhã no “nada que é tudo”.
Agora os construtores são outros, não os da urbe real, mas da cidade Fantástica; uma obra que assume uma dimensão simbólica, transportada em teleféricos de fantasia pelo inefável D. Sebastião da paróquia. É um fartote.
È certo que qualquer patriarca ostenta um modelo de virtudes imaculadas; uma idolatria obscena, mas o grande golpe de cidadania é conseguir entreter o rebanho de condóminos, na divina comédia dos azulejos de São Martinho, e no convencimento alarve de que a urbe vive o seu grande momento de glória.
Ámen
Ermengarda
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Pobreza, sacos de plástico e ajuda alimentar
Discute-se hoje na paróquia nacional, esse tema fracturante da sociedade portuguesa: o pagamento de uma taxa sobre os sacos de plástico nos hipermercados. A semana passada falou-se da carência de alguns gentios que ganham em média, 500 contos por mês, mas que solicitam ajuda, amíude, ao banco alimentar. Surrealista ? Olhe que não estimado leitor.
Há pouco tempo atrás, a RTP fixava as imagens em algumas ruas da Covilhã com o casario devoluto. Susana, uma jovem desempregada, estendia lamentos enquanto prendia roupa numa corda à porta de casa. Um caso, entre outros, de vitimas que vivem no limiar da pobreza, com os danos amortizados num subsidio de reinserção social que mal dá para alimentar a prole. Susana foi excluída pelo paradigma das novas tecnologias, e pela ironia destemperada da contenção orçamental. As operárias do Paúl, ficam no desemprego, seguramente, pela gestão danosa de empresários sem escrúpulos.
Quem os responsabiliza?
Quem pode ficar indiferente, quando o olhar cabisbaixo destas mulheres mergulha na desesperança, e num futuro adiado?
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Nota breve
E provavelmente é melhor que assim seja. Até porque aqui, existe um espaço de liberdade, por vezes complexo e desordenado, outras vezes caótico, mas é aí que reside justamente o seu interesse; pela ausência de controle, e pela marginalidade. O resto fica nas entrelinhas, nos espaços vazios à prova da inteligência do estimado leitor, para que descortine esse sentido obscuro das coisas. Ou talvez não.